Economia da Longevidade: Panorama Geral e Iniciativas Brasileiras
- Eduardo Ramires e Edilmere Sprada
- 30 de jun.
- 51 min de leitura
Atualizado: 1 de jul.

Capítulo 23 do livro: INOVAÇÃO, PROJETOS & POLÍTICA
Autores: Eduardo Novaes Ramires e Edilmere Regina Sprada
Ano: 2022
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1.. 1. Economia Prateada e Economia da Longevidade
O mundo está cada vez mais “prateado”. Uma proporção cada vez maior de pessoas idosas está presente na população - por isso a associação com cabelos brancos ou prateados. Essa mudança demográfica veio para ficar, e apresenta uma série de desafios e oportunidades para toda a sociedade. Dois termos são os mais utilizados para tratar do impacto econômico dessa mudança demográfica. Na Europa é mais usual o termo Silver Economy (Economia Prateada), que é definido no relatório da União Europeia sobre o tema em 2015 como um conceito que procura abordar de forma holística o envelhecimento e as oportunidades que se apresentam. Influenciando a direção futura de uma ampla gama de políticas como habitação, emprego 50+, aprendizagem ao longo da vida e cuidados preventivos à saúde. Além disso, procura abarcar novas tecnologias como casas inteligentes, monitoramento de saúde, carros autônomos e robôs cuidadores, para reduzir os custos associados ao envelhecimento e melhorar a vida de pessoas idosas, simultaneamente ajudando a melhorar a economia. De forma mais concisa, é definida como a parte da economia que diz respeito às necessidades específicas da população acima dos 50 anos. Como o nome sugere, a Silver Economy não é um mercado específico, mas constitui-se mais como uma economia cruzada. Importante destacar que nos países desenvolvidos a idade mínima considerada para o idoso é 65 anos ou mais, enquanto no Brasil, um país em desenvolvimento, a ONU (Organização das Nações Unidas, 1982) considera idoso a partir de 60 anos, bem como a legislação vigente no país.
O termo Economia da Longevidade (Longevity Economy) foi definido pela influente American Association of Retired Person (AARP), como sendo a soma de toda a atividade econômica promovida pelas necessidades das pessoas com 50 anos ou mais, incluindo produtos e serviços comprados diretamente por este segmento da população, bem como, toda a atividade econômica gerada por este mesmo consumo.
Encontra-se na literatura diferentes linhas de corte de idade nos estudos (50+, 60+, 65+), com ênfase no uso de um dos dois termos acima, muitas vezes como sinônimos. Neste capítulo preferimos usar o termo Economia da Longevidade, para evitar na língua portuguesa conotações de preconceito com idade e entendendo que o termo longevidade engloba as fases de vida do indivíduo, sem linhas de corte arbitrárias. Também reconhecemos outros impactos da economia da longevidade, como apontado por Ana João Sepúlveda, que inclui o impacto do trabalho de voluntariado executado por estas pessoas. Bem como todo o investimento público com o envelhecimento e com a promoção do envelhecimento sustentado..
A noção anacrônica de pessoas aposentadas, de pijama e chinelo, que se dedicavam a apreciar (ou cuidar) dos netos e passavam tardes no carteado com outras pessoas aposentadas não cabe mais na realidade presente.
A expectativa de vida média no Brasil era de apenas 52,5 anos em 1960. De acordo com projeções do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a pessoa que nasceu em 2020 viverá em média 76,7 anos; a que nascerá em 2040, até 79,9; e em 2060, até 81,2 anos. Hoje já conseguimos notar a presença de quatro a cinco gerações convivendo muitas vezes juntos em uma só família. A taxa de fertilidade média em 1960 era de 6,1 filhos por mulher. Ocorreu uma queda acentuada da taxa de fecundidade. No ano de 2015 a taxa do país foi de 1,7 filhos por mulher, nível este abaixo da reposição populacional que é de 2,2 filhos por mulher. Uma projeção da ONU indica para 2050 no mundo cerca de 2,1 bilhões de pessoas idosas (25% do total); no Brasil segundo o IBGE seremos 68,1 milhões de idosos. Um cenário que preocupa e desafia ao mesmo tempo. Como estaremos em relação ao sistema de saúde e previdenciário, em políticas públicas, mercado de trabalho, seguro, moradias, turismo, cuidados básicos e familiares? Problemas que são globais, mas com maiores desafios para países em desenvolvimento com rápida transição demográfica, como o Brasil.
A FGV Social mapeou as pessoas idosas de forma global onde os dados geográficos podem ser acessados em vários níveis (municípios, cidades, países); um total de 5600 cidades e 200 países diagnosticados acompanhando um ranking de comparação estatística nas diferentes idades: 60+, 65+, 80+. O link para este material está disponível nas referências do capítulo. Saber onde estão as pessoas idosas que se encontram em maior densidade no mundo pode auxiliar não somente nas políticas públicas de cada local, mas nas perspectivas de como o mercado longevo irá evoluir, e onde.
As pessoas com 60 anos ou mais atualmente rejeitam rótulos como o de “velhinhos”, e lutam contra preconceitos ainda muito presentes na sociedade em relação a essa fase da vida. A discriminação baseada na idade, chamado no Brasil como “ageísmo” (do inglês ageism). etarismo ou idadismo, tem se chocado como uma nova realidade da longevidade, em direção a um envelhecimento autônomo, pleno, satisfatório e heterogêneo. “Idoso” é um termo que indica uma pessoa com uma vivência traduzida em muitos anos. No Brasil a Lei No 10.741/2003 (Estatuto do Idoso) define idoso como pessoa de 60 anos. Mas existem iniciativas que buscam mudar este marco referencial para 65 anos em função principalmente da maior expectativa de vida e do estabelecimento da idade para o início da aposentadoria. Neste capítulo evitamos os termos “velho”, ou “terceira idade”, “melhor idade”, justamente pela carga de preconceito que carregam. Usamos os termos 60+, 65+, sênior, idoso ou pessoa idosa, maduro ou pessoa madura. Mesmo a longevidade é encontrada nas palavras senioridade, envelhecimento ativo e maturidade.
O impacto das aposentadorias na Previdência Social tem grande relevância atualmente. No Brasil em 1888 um decreto imperial estabeleceu que funcionários dos Correios deveriam cumprir 30 anos de serviço além da idade mínima de 60 anos. Em 1960, foram unificadas as regras de aposentadoria. Para aposentadoria por velhice, a idade mínima era de 60 anos para mulheres e 65 anos para os homens e por tempo de serviço teria que ter 30/35 anos de trabalho. Para receber o benefício era obrigatório completar 55 anos de idade. As regras da Previdência no Brasil foram alteradas ao longo dos anos. No entanto, os dados mostram que passamos progressivamente de uma idade de aposentadoria maior que a média de vida do brasileiro em 1960, para uma perspectiva de quase duas décadas a mais de vida, atualmente. O modelo usado por muito tempo, de rateio de contribuições previdenciárias dos trabalhadores na ativa vêm sendo usadas para custear o pagamento dos aposentados, evidentemente não se sustenta.
Temos hoje, pelos idosos, cada vez mais uma abordagem carpe diem. Se vive o hoje intensamente, se deseja movimento, fisicamente, mentalmente e cognitivamente. Isso reflete no desejo de manter atividades profissionais, que podem ser no seu ramo de atuação anterior ou, em novas aventuras. Seja para complementação de renda, como realização pessoal, propósito ou um meio de se manter vínculos de amizades, se sentir útil perante a família, comunidade e/ou sociedade.
Frente a toda essa mudança demográfica populacional, uma das primeiras conclusões óbvias que surge para empreendedores é de que as empresas que não direcionarem atenção ao público sênior estão escolhendo diminuir seu público-alvo, a cada ano. Em nações onde a transição demográfica foi mais lenta e a proporção de idosos na população é maior há décadas - como em vários países da União Europeia, ou países asiáticos como Japão e Coréia do Sul - o mercado de produtos e serviços voltados para seniores é bem mais consolidado e organizado. Com inovações na área, portanto surgindo num contexto organizado, e mais favorável à sua adoção por pessoas e corporações.
A rápida transição demográfica do Brasil passou a ter maior destaque em anos recentes. Isso se reflete na legislação e no paradoxal estágio de “primeiros passos” do mercado da longevidade em nosso país. Alguns exemplos: o marco de ordenamento jurídico essencial - Estatuto do Idoso, como é conhecida a Lei 10.741/2003, foi promulgado quando a população de idosos era menos da metade da atual. O primeiro curso de Gerontologia no Brasil teve início em 2005 pela Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo; antes disso estava disponível somente a especialização na área. A legislação vigente, que regulamenta o trabalho de um cuidador de idoso em âmbito residencial, é a Lei Complementar nº 150/2015, derivada da PEC das domésticas. A Sociedade Brasileira de Gerontecnologia (SBGTec) foi fundada em 2017. A primeira pesquisa ampla sobre o consumidor sênior, a Tsunami 60+, é de 2018. A primeira grande feira de negócios e fórum do setor, a Expo Longevidade, ocorreu em 2019.
Após esse breve panorama, vamos a seguir detalhar e explorar aspectos e iniciativas concretas - muitas delas pioneiras - ligadas a diferentes aspectos da nascente Economia da Longevidade no Brasil. Como o movimento nesse mercado é intenso na atualidade, o texto a seguir faz um retrato das principais iniciativas selecionadas com base na experiência profissional e revisão do assunto pelos autores, datadas pelo momento da redação deste capítulo - fevereiro de 2021.
1.. 2 Produtos, Serviços e Consumidores Seniores
A rápida transição demográfica do Brasil não foi acompanhada de iniciativas de planejamento governamental e de empresas que se antecipassem a esse fenômeno. Assim, temos sérios gargalos. Bem como grandes discrepâncias regionais em termos de estágio de transição demográfica e maturidade da economia da longevidade.
Um dos grandes desafios é a regulamentação, formação e quantidade de profissionais voltados para o trabalho com seniores. Como mencionamos, apenas em 2005 iniciou-se o primeiro curso de Gerontologia no Brasil. Dez anos após, os cursos de cuidadores passaram a ter mais atenção, principalmente quando aprovada a Lei Complementar derivada da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) das domésticas, já citado acima. A atividade de cuidador de idoso é uma das que mais cresceram no Brasil nos últimos anos. O projeto de lei nº 11/2016, aprovado em 2019, que criaria e regulamentaria as profissões de cuidador de pessoa idosa, cuidador de pessoa com deficiência, cuidador infantil e cuidador de pessoa com doenças raras foi integralmente vetado pelo Presidente da República. Novo projeto sobre o tema - PL 5178/2020 - está em tramitação (referência fevereiro de 2021).
O número de médicos geriatras no Brasil é muito reduzido. Eram 1817 profissionais, conforme dados da Demografia Médica Brasileira de 2018. Pelo mesmo estudo na sua edição de 2020, o número de geriatras passou a 2010 profissionais. Como temos no Brasil 5570 municípios, muitas cidades no país não têm nenhum geriatra. Pelos dados de 2020, a especialidade com mais profissionais é a de Clínica Médica. A segunda é de Pediatria, com 40.981 especialistas, ou seja, temos mais de 20 pediatras para cada geriatra! Certamente outras especialidades médicas atendem também a pessoas idosas. Mas as especificidades desse período da vida são melhor abordadas por um especialista. Soma-se a isso a falta de psicólogos, fisioterapeutas, fonoaudiólogos, entre outros, para compor a assistência multiprofissional prestada ao idoso e a má distribuição desses profissionais pelo Brasil.
Cada vez mais se constata e conhece o poder de consumo e de geração de renda de seniores no Brasil. O Centro de Políticas Sociais da Fundação Getúlio Vargas (FGV Social) divulgou em 2020 a pesquisa Onde Estão os Idosos? Conhecimento contra a Covid-19. No que diz respeito à distribuição pelas faixas de renda, os idosos são 17,44% dos 5% mais ricos brasileiros e 1,67% dos 5% mais pobres brasileiros. Assim, temos pessoas idosas mais presentes nas classes mais abastadas: 15,54% da classe AB e 13,07% da classe C possuem 65 anos ou mais de idade contra 1,4% deste grupo na Classe E. Há 10% menos desigualdade de renda per capita entre idosos. Este grupo também é menos exposto à pobreza: 2,37%, contra 11,5% da média nacional. No referido estudo da FGV, a base permitiu acompanhar a trajetória das mesmas pessoas ao longo do tempo. Os idosos inicialmente não pobres tinham 1,58% de probabilidade de se tornarem pobres no curso de um ano, contra 5,06% da média geral. Ao passo que dos idosos pobres, a maioria (70,51%) deixou este estado crítico de um ano para o outro contra 28,77% da média. Os seniores são como esperados os maiores recebedores das aposentadorias da previdência social (59,64%) e 40,78% dos que recebem o Benefício de Prestação Continuada (BPC). Praticamente não recebem renda do Bolsa Família (0,89%), que oferece, em média, benefícios 5 vezes menores que os do BPC. Pelos dados da FGV Social, no que diz respeito à escolaridade, a taxa de idosos entre os pouco escolarizados costuma ser maior. Idosos têm 3,3 anos de estudo completos a menos que a média. De maneira geral, os idosos brasileiros estão localizados em domicílios menores e possuem renda relativamente alta, homogênea e estável frente ao conjunto da população.
A pandemia do Covid-19 trouxe mudanças significativas nas finanças das famílias brasileiras. Entre os seniores, os gastos e a renda ficaram bem mais estáveis, reflexo dos benefícios de aposentadoria. Empreendedores brasileiros 65+ são os que mais empregam no país. Segundo estudo publicado no ano de 2021 com dados relativos ao terceiro trimestre de 2020 pelo Sebrae, a partir dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra por Domicílios Contínua (PNADC) do IBGE, a maior proporção de empregadores (20%) está localizada nessa faixa de idade, e quando comparados às outras faixas etárias, os donos de negócio que são empregadores nesta faixa etária são os que mais possuem funcionários, sendo 71%, com 1 a 5 empregados; 11%, com 6 a 10 empregados; 10% com 11 a 50 empregados e 8% com 51 ou mais empregados. Os empreendedores 65+ constituem o grupo que proporcionalmente mais gera emprego entre os pequenos negócios. É na região Sudeste que 50% desses empreendedores comandam suas empresas, sendo que São Paulo e Minas Gerais são os estados com as maiores concentrações. Essa força econômica dos seniores aparece em uma projeção no estudo da consultoria SeniorLab, de que em 2030, os 60+ serão responsáveis por 30,6% do consumo de bens e serviços no Brasil. Ou seja, em um período de apenas mais uma década, mais de um terço de todo o faturamento das empresas desses segmentos será proveniente das compras feitas pela população mais madura, principalmente por e-commerce.
1.. 3 Mercado de Trabalho
A transição dos seniores no mercado de trabalho é como entrar no desconhecido. Sendo uma experiência totalmente diferente das anteriores, uma reinvenção que requer algumas etapas que devem ser experimentadas, que englobam uma reavaliação da vida, a exploração do mercado atual e uma coragem para se liberar, libertar, conhecer, aprender, reaprender e inovar. Assim como o sênior está se redescobrindo neste momento, muitas vezes por necessidade, as empresas também estão se adaptando ao mercado da longevidade.
Um exemplo desta integração (sênior x empresa) ou retorno destes seniores ao mercado de trabalho foi o filme de 2015, "Um Senhor Estagiário" (Anne Hathaway e Robert de Niro) com muita repercussão. Mostra como a intergeracionalidade - hoje vista como parte da política de diversidade nas empresas - pode parecer difícil em um primeiro momento, mas rende bons aprendizados, inclusive para o sênior na sua reinvenção de vida. Grandes empresas no Brasil abriram recentemente programas de estágio voltados para idosos. Se a recolocação no mercado de trabalho é um grande desafio, a missão é ainda mais difícil quando o profissional em questão é uma pessoa 50+ ou 60+.
O mercado de trabalho para os 50+ busca alguns fatores essenciais como competência baseada em tecnologias, conhecimento do mercado específico, aprendizagem (individual, grupo e organizacional), criatividade, empatia, flexibilidade, resiliência, espírito de equipe, conhecimentos em empreendedorismo e inovação, entre outros. Muitos sentem dificuldade de entender a linguagem atual, por exemplo das startups, mas isso não pode ser um empecilho para se recolocar no mercado ou empreender e sim, uma combinação de desafio, propósito, pensamento criativo que jamais se escondem por muito tempo. Com um mercado que se abre com oportunidades inovadoras a cada ano, muitos produtos e serviços estão sendo criados para esta geração e precisam deste protagonismo em conjunto (“nada para nós ou por nós, sem nós”).
Uma pesquisa realizada pela Aging Free Fair em parceria com a FGV (2018) , que reuniu gestores de RH (Recursos Humanos) de 140 empresas, concluiu que as organizações ainda não estão preparadas para enfrentar um cenário de envelhecimento da força de trabalho. Embora a inserção de idosos no mercado de trabalho seja vista com bons olhos pelos gestores, fatores como limitação de criatividade, má adaptação às novas tecnologias e custos em termos de planos de saúde e assistência odontológica, são fatores que impactam a contratação desses profissionais. É necessário que organizações se adaptem à força de trabalho envelhecida. Para isso, é importante que as empresas adotem práticas adequadas para a inserção e manutenção desses profissionais. Fatores como o comprometimento, diminuição de turnover, resiliência e maior experiência na gestão de crises, são relevantes. Para negócios voltados às pessoas idosas, o contato com colaboradores também seniores traz maior credibilidade e atenção ao lidar com estas pessoas.
Segundo dados da Secretaria de Trabalho do Ministério da Economia, o número de pessoas 65+ em vagas com carteira assinada têm aumentado significativamente. Por outro lado, o aumento da procura por emprego de pessoas nessa faixa etária também impactou a alta do desemprego. A população entre 40 a 59 anos em 2019 tinha a segunda maior taxa de desemprego da Região Metropolitana de São Paulo (20,2%), que só aumentou com a pandemia da Covid-19. Esse grupo só está atrás dos jovens entre 16 e 24 anos, público que está apenas começando no mercado de trabalho. A ausência de vagas de emprego para idosos e a falta de capacitação desses profissionais exigem que essas pessoas se reinventem frente às novas tecnologias. Mas, no Brasil já existem algumas empresas, bem como redes ou movimentos que estão fazendo essa conexão entre o 50+ e o mercado de trabalho. Os mais atuantes com a longevidade ativa são LAB60+, Labora e a Maturi Jobs, cada qual com sua trajetória.
● LAB60+ - teve seu início em 2014; espaço onde novas iniciativas relacionadas à longevidade são apresentadas e/ou construídas coletivamente. No movimento já foram realizadas Desconferências (2018 e em 2019 juntamente com a Longevidade Expo + Fórum), os tradicionais Festivais presenciais nos anos de 2014 a 2018 e desde 2020 os Festivais Lab60+ Digital, edição inverno e primavera e, no ano de 2021 com as edições primavera, verão e outono. Mensalmente são realizados os Cafés ComVida, atualmente no formato Digital (https://www.lab60.me/). Fruto deste movimento, a Uni-Inversidade (https://uni-inversidade.com.br/) iniciou em Curitiba dois programas experimentais para os 50+ em parceria com o Centro de Inovação SESI/PR (Longevidade e Produtividade) que foram: Reinvenção para o Trabalho 60+ na Indústria em 2017 e o Empreenda-se em 2018, atualmente além destes dois programas também possui o Desenvolvimento de Liderança.
● LABORA TECH - uma organização sustentadora do LAB60+, a 1ª HR Tech de impacto social do Brasil, empresa certificada pelo Sistema B que tem como produtos trazer oportunidades de trabalho 50+ com seus parceiros, qualificação profissional em tecnologias, capacitações, consultorias entre outros. (https://www.labora.tech/).
● MATURI - desenvolvida através de um projeto em 2014 com a intenção de conectar jovens e idosos, a Maturi se transformou em uma plataforma de oportunidades de trabalho, desenvolvimento pessoal, capacitação profissional, empreendedorismo e networking. Reconhecida pelo SEBRAE e pelo PNUD Brasil em 2017 como negócio de impacto social. (https://www.maturi.com.br/)
Estas redes e/ou movimentos são essenciais para dar maior visibilidade a esta geração que quer trabalhar e empreender e também, atualizar através das capacitações, pois vale lembrar que muitos planos de carreiras tradicionais não existem mais. Nem o “emprego por toda vida”; a tecnologia invadiu o mercado exigindo conhecimentos e habilidades, rede de relacionamentos (networking), prototipação de novas ideias, modelos de negócios enfim, aquele mercado de trabalho “antigo” foi modificado pela exigência das novas regras de carreira.
A reavaliação na metade da vida, a sinergia entre a experiência de vida profissional, a sabedoria, a satisfação emocional frente tantas inteligências só ajudam na promoção do crescimento humano. Reinventar e reconfigurar para novas possibilidades, e isso, na pandemia de Covid-19 foi acelerado para muitas pessoas idosas também, principalmente em relação na relação com a tecnologia digital, digitalização, como iremos detalhar a seguir.
1.. 4 Inclusão Tecnológica
A Gerontecnologia é um ramo recente do conhecimento. Pode ser entendida como o estudo da tecnologia associada ao envelhecimento, para adequação dos recursos tecnológicos à saúde, moradia, mobilidade, comunicação, lazer e trabalho dos idosos, de maneira que proporcionem uma vida saudável e digna.
Nas universidades europeias as ações voltadas especificamente ao público idoso tiveram a França como precursora na década de 1960. Em 1973 ocorreu a criação da “Universidade da Terceira Idade”, em Toulouse. Iniciativas similares foram se desenvolvendo e se disseminando pela Europa. Os objetivos eram tirar os idosos do isolamento, melhorar sua qualidade de vida e também modificar sua imagem na sociedade. No Brasil, o pioneirismo foi do Núcleo de Estudos da Terceira Idade (NETI), da Universidade Federal de Santa Catarina, em 1983.
Não há padronização na nomenclatura para as atividades de instituições de ensino superior voltadas ao público sênior no Brasil e no mundo. Sendo chamados de Núcleos ou Grupos de Estudos, como Universidade Aberta à ou para a Terceira Idade; Universidade Sênior, Universidade Aberta da Maturidade, Universidade do Tempo Livre, UniversIdade, Instituto para as Pessoas Aposentadas (Europa e USA), Escola Aberta, Universidade Intergeracional, Programa de Participação Permanente, Universidade sem Limites, entre outros. Neste capítulo usaremos a denominação Universidade da Maturidade (UMA). Esses projetos tiveram crescimento expressivo no Brasil na década de 1990, continuados nos anos 2000 e 2010. Em instituições públicas - quase sempre de forma gratuita ou com custos muito acessíveis - e em instituições privadas, com diversas faixas de custo. Nas UMA's, o tema da inclusão tecnológica esteve sempre presente, acompanhando as demandas de tecnologia de cada época. Além do uso de computadores pessoais a partir da segunda metade dos anos 1990, problemas práticos como manusear controles de TVs com múltiplos canais via satélite, depois via cabo, smart TVs, eletrodomésticos como microondas, panelas elétricas entre outros, eram abordados. Com a ampliação do uso de smartphones e, portanto, da disseminação de usuários de redes sociais e aplicativos de mensagens instantâneas, essa demanda se ampliou e se tornou mais constante e direcionada. Dados relativos a 2015 indicam que, das 63 universidades públicas federais brasileiras, 36 tinham ações de educação permanente aos idosos. A Sociedade Brasileira de Gerontecnologia, fundada em 2017, tem entre seus quadros diretivos muitos profissionais ligados à UMA's, de instituições públicas e privadas. É essencial ressaltar o trabalho das UMA's, pois durante décadas foram os principais atores e centros de formação profissional e pesquisa em inclusão digital de idosos. O programa USP Aberta à Terceira Idade, criado em 1994, é o maior em atuação no país (em 2020 o programa passou a se chamar USP 60+). No segundo semestre de 2019, a iniciativa gratuita disponibilizou 4560 vagas divididas entre muitas atividades, várias delas de inclusão digital de 60+. Durante a pandemia da Covid-19 muitos dos programas presenciais das Universidades da Maturidade foram adaptados para funcionar através do ensino à distância (EaD).
Trabalho muito relevante faz o SESC (Serviço Social do Comércio). Pioneiro no país, desde o início dos anos 1960, através do Trabalho Social de Idosos. O trabalho começou em São Paulo, no SESC Carmo. Na época, os seniores iam ao SESC para procurar atividades de lazer que ocupassem o tempo livre. Mesmo anos antes da pandemia do Covid-19 dezenas de milhares de idosos participaram presencialmente a cada ano das atividades nas unidades do SESC em todo país. Interagindo com novas formas de conhecimento e compartilhando expectativas vivenciais, por meio de projetos adaptados às diferentes culturas das regiões do Brasil. O tema da inclusão digital sempre esteve presente, em várias formas. Por conta do reconhecimento do Trabalho Social com Idosos, o SESC participou de duas Assembleias Mundiais sobre o Envelhecimento da ONU: em Viena (1982) e em Madri (2002). Além disso, participa desde 2002 do Conselho Nacional de Direito do Idoso e colaborou com a formulação da Política Nacional do Idoso (1994) e do Estatuto do Idoso (2003).
Vale ressaltar que vários Centros Culturais no Brasil trabalham com foco no público sênior e longevidade, com temas de inclusão digital sempre presentes. A UNIBES Cultural de São Paulo, tem o público sênior como uma de suas prioridades e criou extensa programação online com foco em longevidade ao longo de 2020, com diversos parceiros institucionais e várias startups como a Broder, que também ofereceu oficinas de aplicativos para idosos participantes dos programas sociais da UNIBES.
Em termos de políticas públicas, as iniciativas de inclusão digital são mais recentes, e claramente impulsionadas pela pandemia do Covid-19 bem como, desafios de empregabilidade dos 50+ causados pela exclusão digital. As iniciativas com maior capilaridade e potencial no Brasil, mas ainda bem pouco utilizados são os “Centros de Convivência do Idoso”, parte da Política Nacional de Saúde da Pessoa Idosa (Portaria 2.528/2006), que preconiza implantação de Centros de Convivência e Centros-Dia, seguindo o que foi posto pelo Decreto 1.948/1996. Destinam-se à permanência diurna de pessoas 60+ e desenvolvem atividades físicas, laborativas, recreativas, culturais e de educação para a cidadania. Os Centros de Convivência do Idoso eventualmente (raramente ainda) oferecem acesso à internet e programas de inclusão digital entre suas atividades. Com a pandemia do Covid-19 estes locais tiveram que se adaptar, como alguns chamaram de “novo normal” para amenizar as consequências do isolamento social, preparando um plano de atendimento à distância que inclui desde teleatendimento, ações remotas no domicílio até a realização de atividades on-line (bate-papo, concursos virtuais, exercícios físicos, dança, atividades e aulas sobre uso do celular), tudo para promover mais segurança, saúde e bem-estar aos idosos.
O Estado de São Paulo instituiu em 2012 o Programa Estadual "São Paulo Amigo do Idoso", que previa cursos de inclusão digital. Em outubro de 2020 o mesmo Estado lançou o projeto “Longevidade” de apoio à inclusão produtiva e digital da população de baixa renda acima de 50 anos.
As iniciativas de inclusão digital de idosos que ocorrem fora de instituições de ensino superior, SESC e projetos do poder público são bem mais esparsas e difíceis de quantificar. Escolas de informática e tecnologia em anos recentes ampliaram a oferta de cursos para seniores. Vários fenômenos se aceleraram e se acentuaram na pandemia do Covid-19. Além das mais óbvias, como migração de cursos presenciais para plataforma digitais e da grande oferta de “lives” sobre tecnologia para seniores. Com a necessidade de isolamento social imposto pela pandemia, além da redução de contatos com pessoas e das atividades físicas e de lazer externas, muitas atividades da vida diária foram profundamente impactadas. Compras no mercado, refeições, idas ao banco, consultas médicas e exames foram muito reduzidas e passaram a exigir mudanças de hábitos, incluindo o uso das tecnologias. Assim, os seniores em geral se reinventaram na maneira de se comunicar e buscaram outras soluções para os problemas do dia a dia. Houve uma grande inserção das pessoas maduras em redes sociais, passaram a navegar mais em outros ambientes digitais que não eram tão usados por eles, como aplicativos de vídeo chamada e de entrega de comida, supermercado e farmácia. O celular foi o item que teve mais crescimento de uso do início da pandemia para cá. Já nas compras on-line, a desconfiança e a falta de familiaridade diminuíram bastante. Agora pessoas idosas usam também uma maior variedade de aparelhos, além do celular. A internet pelo desktop, por exemplo, é mais usada pelos seniores. O desejo de proximidade com família, amigos e pessoas em geral foi um grande propulsor do processo de digitalização. O uso de redes sociais como Instagram e Facebook, além do Youtube, tiveram aumento significativo na pandemia por pessoas idosas.
Outro fenômeno da pandemia foi justamente o surgimento e a maior relevância de digital influencers seniores. No Brasil talvez o caso mais icônico seja do ator Ary Fontoura, que relata de forma divertida sua rotina de isolamento na pandemia. Em meados de fevereiro de 2020, aos 88 anos, ele tinha mais de 2,4 milhões de seguidores no Instagram! Também causou impacto o comercial da “Vovó Neusa” (Neusa Guerreiro de Carvalho) para o iFood, aos mais de 90 anos (setembro/2020).
Aumentou muito a busca e disponibilidade de materiais gratuitos sobre uso básico de tecnologia disponíveis on-line, com destaque para tutoriais disponíveis no Youtube. Sites de tecnologia bem consolidados para o público geral como o Techtudo e mesmo direcionados a usuários mais avançados, como o Canaltech, entre outros, ampliaram o conteúdo sobre e para seniores. Uma grande variedade de aplicativos voltados a facilitar o uso do celular para idosos está à disposição nas lojas de aplicativos Android e iOS. Linhas de celulares e tablets para seniores, tiveram destaque na mídia.
Vários movimentos sociais e startups focam na inclusão digital plena do idoso, para melhor uso da tecnologia, eventualmente com uso de recursos de acessibilidade dos sistemas operacionais ou via aplicativos específicos, mas, sempre no sentido de seu protagonismo e no uso pleno da tecnologia em aprendizagem contínua e independente. Citamos abaixo algumas iniciativas relevantes:
● ISGAME - de São Paulo, fundada em 2014, iniciou sua atividade com aulas de desenvolvimento de videogames para crianças. Em 2015 começou a trabalhar também com desenvolvimento de jogos para idosos. Atualmente tem o curso e aplicativo “Cérebro Ativo”. Dentre as iniciativas de startups no Brasil com idosos, é a que provavelmente maior interação promoveu em pesquisa com universidades, validando o potencial de sua tecnologia para estímulo cognitivo de idosos. Hoje evolui em pesquisa de monitoramento da saúde com games, usando wearables e Inteligência Artificial.
● SENIOR GEEK - do Rio Grande do Norte, iniciada em 2018. Ajuda os 60+ a desenvolverem habilidades no mundo digital, através de cursos, workshops e bate-papos. Também participa da iniciativa #60+TECHS.
● #60+TECH - um destaque é a influencer e empreendedora social em longevidade Gal Rosa, de Minas Gerais/BH. Gal Rosa participa de diversas iniciativas de inclusão digital, atuando como fundadora e/ou catalisadora, junto com seniores versados em tecnologia, como Marcelo Thalenberg. Sérgio Grinberg, que também atua no time #60+TECH, é criador do “Desmistificando a Conversa com o Computador” onde ensina sobre tecnologia para seniores.
Várias outras iniciativas foram apresentadas ao longo do período da pandemia de Covid-19, por exemplo nas reuniões do Café ComVida Digital Lab60+. Vale ressaltar que citamos aqui iniciativas relevantes de inclusão digital, mas não ligadas diretamente a questões de emprego e qualificação profissional, que tratamos em Mercado de Trabalho.
Iniciativas de inclusão digital de seniores como essas e várias outras floresceram na pandemia, e têm um espaço a ser mantido e expandido para atividades presenciais, semipresenciais, à distância e no pós-pandemia que se anuncia com a vacinação em andamento, tendo os seniores como grupo prioritário.
1.. 5. Turismo 50+
É fato que com o crescimento da população de seniores e a expectativa de vida ativa, os padrões de consumo na área do turismo já vem predominando sobre outras gerações. O que envolve não somente a questão de lazer e melhora na qualidade de vida, o valor sociocultural e psicossocial, mas também as novas formas de incentivo tanto privado quanto de estratégias de políticas públicas de turismo.
Se pensarmos na economia convencional, o turismo é um produto intangível, difícil de ser mensurado, mesmo assim foi o setor que até início da pandemia do Covid-19 mais cresceu, se tornou extremamente competitivo e movimentou trilhões de dólares em todo o planeta como indicado pela Organização Mundial do Turismo (OMT). A OMT em 2003 tornou-se uma agência especializada das Nações Unidas, antiga União Internacional de Organizações Oficiais de Viagens (IUOTO).
O turismo sênior lida com sonhos, com realizações, planejamentos em grupos, troca de experiências, vivências e conhecimentos. É um turismo que exige mais atenção e cuidados, uma programação mais detalhada em relação às atividades de lazer, saúde, serviços de hotelaria, alimentação, conforto, descansos, visitas, educação entre outros motivos que fazem da viagem um incentivo para o seu retorno ou motivação para outros roteiros. Muitas empresas que trabalham com lazer e recreação e principalmente as agências de viagens buscam incansavelmente adequar suas estratégias de comercialização dos produtos e sua política de marketing para este público que, após a pandemia, já vacinados, deverão ser um dos maiores consumidores.
Os seniores viajam durante o ano inteiro, sem a dependência de sazonalidade, ajudando muito a otimizar produtos ofertados em baixa temporada, por exemplo. O potencial de tempo disponível - proporcionando por exemplo taxas de ocupação melhores em períodos de baixa temporada - e renda torna o turismo de seniores um dos principais alvos da retomada do setor especialmente pós-pandemia. Outra importante mudança que tem sido responsável por esse crescimento é a maior inclusão digital, que os anima a ter novas experiências para que possam compartilhar. Pesquisas apontam que a melhoria da qualidade de vida foi apontada pelos idosos entre os principais benefícios visíveis a partir da participação em atividades turísticas. Visualizam várias motivações de turismo: cultural, saúde, religioso, natureza, roteiros termais, compras, amizades, de aventura, e procuram normalmente por viagens programadas e dirigidas, seja em grupo, individuais ou de casais.
Claude Vimont (Céreq-França), presidente do Centro de Estudos e Pesquisa sobre Qualidade de Vida já dizia que “indivíduos de 60 a 75 anos se encontram no centro do 'triângulo mágico’: dispõem de tempo, de dinheiro e de saúde”. Isso em países desenvolvidos. O que difere do Brasil devido às distinções socioeconômicas, mas o fato é que, todos os idosos sonham com este tipo de lazer, como uma satisfação sem culpa, prazerosa ou até mesmo como descanso dos anos trabalhados. Os idosos atualmente possuem maior disponibilidade física e independência, a velha imagem se desfaz quando se observa o montante de agências que apareceram para atender a tão famosa “Terceira Idade”, assim como a rede hoteleira teve que aprender a receber este turista diversificando seus tipos de lazer como atrativo.
Uma agência de turismo alemã em 1984 lançou um catálogo de férias para idosos chamado Seniorenreisen, que eram viagens de estudo, cruzeiros entre outros roteiros, todos com assistência médica e acompanhantes qualificados; como não houve procura fechou anos após indicado mais pelo nome utilizado especificando a idade. Em 1993 o programa Seniorentreff (encontro de idosos) foi criado pela operadora Hapag-Lloyd (Bremen) para incentivar os seniores a viajarem. Outras operadoras passaram a oferecer programas similares, algumas incluindo guias, acompanhantes e tradutores para viagens internacionais. Muitos dos guias/acompanhantes da época eram médicos alemães que davam um cuidado especial ao cliente. Este quadro no Brasil sempre foi muito discreto, com poucas ofertas e poucos roteiros adequados. O que mais atrai hoje o turista idoso são os diferenciais; os programas devem ser bem elaborados, principalmente sem rótulos ou como já falamos sem conotação preconceituosa (ageísmo/etarismo), uma exigência que só aumenta neste segmento, o cuidado com a linguagem. Nesse sentido, o próprio termo muito comum há pouco tempo agência de turismo “para terceira idade”, tem de ser atualizado imediatamente.
As necessidades frente ao mercado turístico sênior fizeram com que em 2015 por solicitação de uma pessoa idosa, viajante incansável aos seus quase 90 anos, fosse elaborado atentamente um curso de capacitação para pessoas acompanharem seniores em viagens (www.kirazbrasil.com.br). O curso é pensado nas diversas dificuldades durante as viagens no Brasil e no mundo principalmente relacionadas à atenção, apoio e paciência destinados aos idosos. Frente a esse pedido e as demandas encontradas no setor, foi elaborado o Curso de Acompanhante de Pessoa Idosa em Viagem, e em 2019 juntamente com a startup Broder; o curso passou a capacitar também acompanhantes de Pessoa com Deficiência (PCD). Desta parceria (Kiraz Brasil e Broder) surgiu a figura do Broder Travel, pioneiro no Brasil, porém pausado temporariamente devido à pandemia de Covid-19. O turismo enquanto mercado econômico tem que buscar alternativas para melhor atender seniores, não só de pacotes turísticos atraentes, ofertas, roteiros. Mas também no atendimento empático, na qualidade, no planejamento, na acessibilidade, em um serviço personalizado buscando levar maior segurança ao turista sênior.
A busca por novas soluções em várias áreas do turismo de forma inovadora e tecnológica levou a OMT em janeiro de 2020, a segunda edição da “Startup Global de Turismo”, que divulgou 3 empresas finalistas que participaram do prêmio da ONU sobre inovação e turismo: HiJiffy (serviços de rede social), a Live Eletric Tours (carros 10% elétricos para passeios turísticos) e a Luggit (recebe e entrega malas de viajantes). As categorias mais vistas são de mobilidade inteligente, hospitalidade, desenvolvimento rural, destinos inteligentes, sustentabilidade e deep tech (novas tecnologias).
Logo após, teve início a pandemia do Covid-19 e com isso o índice de atividades turísticas despencou no mundo todo. Até mesmo o Carnaval de 2021 foi cancelado no Brasil. A importância dos seniores era crescente pré-pandemia e será muito importante a retomada do setor, após o controle ou minimização da pandemia. A plataforma global de turismo Booking.com realiza pesquisas anuais sobre as grandes tendências de viagem para o ano seguinte. Na edição de 2019, um dos destaques para 2020 - frustrado pela pandemia - foi o turismo de seniores. Cerca de 77% dos viajantes brasileiros acima de 65 anos afirmam que viajar seria a melhor forma de aproveitar o tempo livre com a aposentadoria. Nos últimos anos, houve uma considerável evolução nas ofertas de pacotes e adaptação de roteiros turísticos para o público sênior, mas ainda falta muito para suprir a demanda nacional.
Em maio de 2020 foram redigidas algumas diretrizes pela OMT em conjunto com o Comitê de Crise de Turismo Global para priorizar a recuperação pós pandemia do setor no que se refere ao impacto econômico, ao desenvolvimento de protocolos de segurança, na coordenação de respostas e na promoção da inovação. Neste guia já se destacam as transformações digitais que deverão ocorrer, não somente nos destinos turísticos, mas, na operacionalidade dos hotéis e aeroportos. As aplicações da tecnologia digital só tendem a aumentar no que se refere também ao acompanhamento dos turistas com seus históricos de viagens, testes da Covid-19 e requisitos de vacinação, rastreamento de contato etc. Até o momento não se tem perspectivas assertivas de retomada deste setor, tudo dependerá da organização da saúde nos países, com vacinas que possibilitem mais segurança às pessoas para viajarem. A maior aposta de crescimento no setor é com o turismo doméstico ou nacional, incorporando uma dimensão mais social relacionada ao cuidado, à atenção sênior e com visão mais abrangente. O momento será de união, inteligência e criatividade de todos os setores do turismo, para levar maior confiança e sustentabilidade para o público sênior.
1.. 6 Alternativas Habitacionais para Seniores
Outro desafio importante para os seniores é a questão da gestão de saúde e da vida independente, muito relacionada com a moradia. A diminuição do número de filhos por família, a emancipação feminina, o contexto sócio-cultural apresentam um futuro em que a ideia da família com quatro ou em alguns casos cinco gerações convivendo no mesmo espaço - avós, filhos, netos e bisnetos - será a cada ano mais rara. Pelos dados do IBGE de 2019, tínhamos já mais de quatro milhões de pessoas 65+ vivendo em moradias unipessoais (sozinhas). Quando as condições crônicas ou agudas de saúde afetam a independência da pessoa idosa, os desafios financeiros e de estrutura familiar ou profissional de cuidados são significativos. Tanto a Política Nacional do Idoso quanto o Estatuto do Idoso definem como obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder público assegurar ao idoso a convivência familiar e comunitária. O Estatuto do Idoso define a priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência. Ana Amélia Camarano já dizia em 2007 que: “quando as famílias se tornam menos disponíveis para cuidar dos seus membros dependentes, o Estado e o mercado privado devem se preparar para atendê-las.”
Com o passar dos anos percebemos que nem todas as famílias reúnem as condições necessárias para manter o idoso em seu próprio domicílio, e nem o sênior tem condições de viver sozinho no seu domicílio. Quando não há essa possibilidade, entram em cena as alternativas de cuidado com idoso que são as Instituições de Longa Permanência para Idosos (ILPI), tradicionalmente conhecidas como “asilos” (não mais utilizada), casa lar, casa de repouso, residência geriátrica, residencial sênior, senior living entre tantas outras nomenclaturas existentes. Outras opções de atendimento que eram oferecidas pré-pandemia do Covid-19 foram os centros dia e os centros de convivência para idosos, que somente retornarão às suas atividades após a ampla vacinação dos idosos, dando segurança para estas atividades.
As pessoas 50+ atualmente buscam maior independência morando sozinhos em residências denominadas inteligentes, que falaremos mais adiante, ou então com amigos em condomínios estruturados, o que pode significar um novo arranjo de moradias para as pessoas idosas longe das tradicionais, onde se busca uma integração social maior, lazer e bem-estar. Na década de 60 surgiram os projetos de Cohousing, tipo de moradia compartilhada, comunitária ou ainda denominada de habitação colaborativa - onde cada morador tem sua própria casa, mas, divide tarefas e um espaço comum com lazer, exercícios e às vezes refeições compartilhadas. O primeiro cohousing foi na Dinamarca. Este modelo é muito comum também nos EUA onde iniciou nos anos de 1988 assim como na Europa. No Reino Unido começaram a ser construídas em 1991, um exemplo é a Older Woman Cohousing (OWCH - https://www.owch.org.uk/) criada por um grupo de mulheres a partir dos seus 50 anos. No Brasil alguns movimentos de cohousing têm sido formados com esse objetivo; a arquiteta Lilian Avivia Lubochinski dissemina esta ideia colaborativa desde 1988, atualmente denominados de Co-Lares em português.
Outro movimento recente no Brasil - e já bem estabelecido em vários outros países - são os de condomínios voltados exclusivamente para a pessoa idosa. Nos empreendimentos privados a faixa de preço desses condomínios é bem abrangente. Na falta de uma política pública do governo federal, coube aos estados e municípios a construção desse modelo de condomínios, que se espalham pelo país ainda de modo tímido. Criado em 2014, o programa “Cidade Madura” localizado em João Pessoa é tido como referência em moradia pública para idosos no Brasil. Em 2020 também foi criado no Paraná o Programa Viver Mais Paraná, uma política habitacional para pessoas idosas que compreende 40 unidades habitacionais em várias regiões, já inaugurada em Jaguariaíva, totalizando 840 moradias a serem distribuídas em outras regiões paranaenses como Cornélio Procópio, Irati, Telêmaco Borba, Prudentópolis, Foz do Iguaçu, Arapongas, Cascavel, Campo Mourão, Cianorte, Dois Vizinhos, Fazenda Rio Grande, Francisco Beltrão, Guarapuava, Londrina, Maringá, Palmas, Pato Branco, Piraquara, Ponta Grossa, Dois Vizinhos, Cianorte e Sarandi.
Não podemos deixar de citar a primeira cidade geriátrica do Brasil em Piracicaba-SP, denominada Lar dos Velhinhos fundada em 1906, na época chamada de “Asylo de Velhice e Mendicidade de Piracicaba” atualmente uma associação que contempla cerca de 400 idosos e 240 funcionários. O local possui 4 pavilhões com quartos para até 6 pessoas dependentes, 130 casas, e 40 flats para funcionar como centro dia ou mesmo moradia. Um exemplo de condomínio fechado bem estruturado onde se tem o cuidado até o final da vida. Outro exemplo de associação residencial é a Associação Geronto-Geriátrica de São José do Rio Preto/SP - AGERIP (https://www.agerip.com.br/) fundada em 1975 por um grupo de amigos que tornaram o local também um condomínio fechado de apartamentos, suítes e casas/chalés que funciona com serviços de hotelaria.
O Brasil precisa inovar nestes novos conceitos de morar para dar mais liberdade às pessoas 60+; alguns grupos se movimentam em várias cidades com esse objetivo, assim como também desenvolvem produtos que podem ajudar muitos a morarem sozinhos com toda infra-estrutura e segurança. Neste caso, falamos das residências denominadas de lares seguros, inteligentes e conectados desenvolvidos por multiprofissionais (engenheiros, arquitetos, gerontólogos, geriatras, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais etc.), trazendo designs biopsicossociais para o novo século. Muitas pessoas idosas podem adequar seus lares para uma longevidade mais independente, sem a necessidade de buscar outro espaço no futuro. Isso é algo que vem sendo dialogado com a nova geração de idosos, mas necessita de mais aceitação e conscientização do processo de envelhecimento pela população, onde o jovem já projete seu futuro.
Esta transição das gerações tem que contar com as tecnologias e inovações na área. Em uma casa hiper conectada a uma realidade na nova década, encontramos o que dizem de saúde 5.0, estilos de vida mais confortáveis e a busca constante por resolução de problemas de doenças degenerativas e outras dependências através da robótica e inteligência artificial.
As casas atualmente denominadas de integradas e inteligentemente projetadas, trazem design com acesso ao cuidado e sua logística, prevenção da saúde e até teleatendimentos. Uma local assim inclui estudos de ambientes saudáveis, dentro da nova realidade híbrida. Alguns exemplos já utilizados em residências e condomínios planejados são as adequações de espaços com espelhos para seus exercícios físicos e fisioterapêuticos com supervisão; televisores giratórios com LED integrado a um assistente virtual; piso plano para automatização com robô de limpeza interligado com assistente virtual; higienização por vapor; paisagismo adequado; guarda-roupa com tomadas para desumidificador e gerador de ozônio; banheiros pertos da cama com móveis reversíveis e versáteis; portas de correr sem ocupar espaços e com a metragem específica; sinalização vertical com fita fosforescente; tapetes nivelados com o piso para reduzir o risco de quedas; janelas e iluminação ampla; sistema de sensor sob o piso que identifica o caminhar da pessoa, seu trajeto que em caso de queda é conectado ao sistema de informação e imediatamente avisa o familiar; cama conectada ao sistema de automação com sensores no colchão que monitora o sono, movimentos, rotinas e iluminação inteligente, tudo controlado por um celular; controle de temperatura nos banheiros; barra de apoio com acessórios; bancadas acessíveis para cadeirantes ou não; varal automático por comando de voz; campainha da porta de entrada monitorada pelo celular; detector de fumaça; mobiliários com alturas diferentes para melhor estabilidade, entre outros. Algumas destas inovações foram apresentadas na Expo Longevidade 2019 e 2020 disponibilizadas no canal do Youtube, assim como, estudos pelo Dr. Chao Lung Wen sobre o design funcional humanizado com identificação do arquétipo sociocultural, ideias de moradias 5.0 com gestão de saúde e cuidados.
1. .7 Startups e Hubs da Economia da Longevidade
Em todas as áreas da economia, da saúde, da cultura e da sociedade como um todo, como demonstramos ao longo deste capítulo, o movimento em direção a produtos voltados aos maduros ganha ritmo intenso. Grandes corporações têm acordado para a economia da longevidade. Na busca de mecanismos de inovação corporativa, várias corporações têm incluído a área de inovação na sua estrutura organizacional. Muitas são também apoiadoras de hubs de inovação - esse tipo de espaço, voltado ao fomento de ideias inovadoras, tem se multiplicado por cidades do mundo todo. Citamos alguns exemplos.
● CUBO - inaugurado em 2015 pelo banco Itaú, em parceria com a Redpoint Ventures, o Cubo é uma organização sem fins lucrativos que propõe transformações para o mercado de empreendedorismo tecnológico em diferentes frentes. Agrega corporações de diversas áreas, cadastradas no Cubo Digital (https://cubo.network/).
● DISTRITO - fundada em 2014, o Distrito, uma grande plataforma de inovação aberta do Brasil, com várias sedes físicas, recebeu em 2020 investimento do grupo Via Varejo (https://distrito.me).
No campo das startups brasileiras - justamente empresas ligadas a novos desafios e necessidades do consumidor - o movimento em direção à economia da longevidade está paradoxalmente ainda na primeira infância. Os termos - Age Tech, AgeTech, Agetech ou agetech - têm sido mais usados recentemente para se referir a empresas e tecnologias que focam no público idoso, melhorando algum aspecto de suas vidas. Inclui produtos que facilitam o cuidado e atenção de familiares a idosos, quando necessário. Cabe ressaltar que, como existem grafias diversas para os mesmos termos, optamos pela grafia mais comum encontrada nos relatórios de startups no Brasil, por isso adotamos neste capítulo o termo e grafia agetech, para esse termo e aos demais que se referem a diversas verticais de startups. Encontramos vários sinônimos, como seniortech, gerontech, gerontechnology, silvertech, agingtech. As agetechs têm ênfases em diversas áreas, e, portanto, se sobrepõe a várias outras verticais de startups. Alguns anos atrás estavam ligadas quase que exclusivamente à área da saúde (healthtech), mas recentemente temos vários exemplos em educação (edutech), seguros (insurtech) bem-estar (wellness), finanças (fintech), construção (construtech), varejo (retailtech), alimentos (foodtech), recursos humanos (HRtech) entre outras.
Não existe ainda (fevereiro de 2021 como referência) um levantamento de acesso público, amplo e confiável publicado sobre as startups da economia da longevidade no Brasil. Vamos referenciar, pela nossa vivência no ecossistema, bem como em relatórios gerais de startups de outras verticais e chamadas e editais específicos para agetechs, algumas que foram ou são pioneiras e/ou relevantes em sua área de atuação. Bem como traçar um breve histórico e os atores que constituem “hubs” - entendidos como pontos de contato entre startups e iniciativas nessa área. As startups que tiveram suas atividades melhor detalhadas anteriormente no capítulo serão apenas citadas por seu nome. Várias empresas citadas podem se definir como startups ou não, dependendo do critério utilizado. Nosso critério foi a empresa ser um negócio inovador, repetível e escalável, em um setor com soluções a serem desenvolvidas. Constitui um retrato amplo, tirado no início de 2021 (fevereiro), de um setor em rápida evolução. Por isso mesmo com eventuais falhas inevitáveis, e que iremos continuamente sanando em estudos posteriores, e com os apontamentos e contribuições advindas da divulgação dessa primeira foto em “grande angular”.
Essencial é ressaltar que várias iniciativas amplas e de valor para a população idosa estão fora do conceito de startups. Organizações do Terceiro Setor realizam valiosas ações “tradicionais” de assistência social. Diversos coletivos e movimentos pelo Brasil afora, e mesmo ações voluntárias espontâneas também atuam de forma descentralizada, mas transformadora, potencializadas pelas redes sociais. São iniciativas difíceis de serem mapeadas, mas nem por isso menos valiosas e geradoras de inovação em forma de tecnologia social, organizações do Terceiro Setor e impacto positivo. O universo de empreendedorismo social e empreendedorismo de impacto do Brasil, toma impulso. Aqui daremos a rasa definição de “negócios a serviço da redução das desigualdades sociais”, para esses termos. No livro A Era do Impacto, James Marins sumariza o estado de conhecimento dessa área no mundo e cita muitos exemplos brasileiros, uma delas que pode ser considerada agetech. Desse universo, buscamos as ligadas a algumas grandes iniciativas de fomento de negócios de impacto social no Brasil: Artemisia, Pipe.Social e Instituto Legado.
O movimento Aging 2.0, (https://www.aging2.com) fundado em 2012, constitui uma comunidade colaborativa que busca acelerar inovação relacionada a desafios e oportunidades da longevidade. A comunidade hoje tem mais de 40 mil membros em 31 países e mais de 120 cidades. Na Aging 2.0 existe a possibilidade de se iniciarem “chapters”, com embaixadores voluntários que representam o movimento. No Brasil temos listados pela Aging 2.0 embaixadores em Brasília, Curitiba, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e São Paulo. A Aging 2.0 está estabelecendo uma plataforma de inteligência coletiva, a The Collective, para inovação em longevidade (preferimos usar o termo longevidade ao invés da tradução ao pé da letra da palavra “aging” que significa envelhecimento) (https://thecollective.aging2.com/).
O time de embaixador - Sérgio W. Duque Estrada - e diretores da Aging 2.0 em São Paulo, reativada em 2017, no mesmo ano participou da criação da Ativen (https://www.ativen.com.br/). Esta última com o objetivo de ser uma aceleradora de startups dedicada exclusivamente para a geração 60+, e de serviços de consultoria com qualidade direcionados para empresas interessadas nesse segmento. O chapter de São Paulo foi o líder mundial dentre os demais da Aging 2.0, em 2018/2019.
Em 2019, em iniciativa da Aging 2.0 com organização da Ativen, foi lançado o projeto do Catálogo Seniortech, de soluções tecnológicas voltadas para a longevidade no Brasil. A Aging 2.0 e Ativen promoveram as duas edições - 2018 e 2019 - da Chamada de Negócios da Longevidade (Startup Search) do Aging 2.0 São Paulo, que agregou diversas iniciativas da área. Na primeira edição em 2018 foram 141 inscrições, sendo 80 de negócios com fins lucrativos e na maioria empresas jovens, com menos de 5 anos e de 1 a 2 funcionários. São Paulo concentrou 59% das empresas com foco na economia prateada, seguido de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Pernambuco. A segunda chamada, em 2019, contou com 125 inscritos. Como é de se esperar no dinâmico ecossistema de startups, várias das iniciativas premiadas ou que de outra forma tiveram destaque nas Chamadas da Longevidade, hoje não estão mais ativas ou pivotaram seu modelo de negócio.
Dentre as iniciativas mais recentes de chamadas focadas em agetechs, tivemos a chamada Neo Acelera - Longevidade Ativa, realizada pela farmacêutica Neo Química, em parceria com a Yunus Negócios Sociais Brasil. Foram selecionadas seis iniciativas, dentre 441 inscritos. O programa de aceleração foi desenvolvido em parceria com a unidade de inovação corporativa da Yunus Negócios Sociais, com apoio da Pipe.Social e da consultoria Hype60+. A Fundação Mapfre lançou em 2020 a quarta edição dos Prêmios Fundación MAPFRE à Inovação Social. Buscando apoiar e promover iniciativas em três temas: Melhoria da saúde e tecnologia digital (e-Health), Economia do envelhecimento: Ageingnomics, Prevenção e mobilidade segura e sustentável. A fase final será em maio de 2021.
Em termos de marketing, surgiu em 2018 um estudo marcante: o Tsunami60+. O maior raio-X sobre o mercado consumidor sênior no país até então. A SeniorLab , consultoria pioneira em mercado sênior e que participa ativamente das iniciativas do Aging 2.0 São Paulo e Ativen, junto com a Raízes.etc estabeleceram o NÚCLEO 60+, uma consultoria que multiplica conhecimentos, focada em 60+. A Hype50+, criou o projeto Silver Makers, que ajuda marcas, profissionais e agências a potencializarem seus negócios a partir do marketing de influência.
Um movimento que merece destaque, já mencionado,é o Lab60+, iniciado em 2014. Esse movimento voluntário propõe a ampliação de nosso olhar para a longevidade, e despertar um olhar propositivo, colaborativo e positivo (famoso “procopó” das reuniões) para identificar as potências e fragilidades que temos por toda a vida. Atua de forma intergeracional, transdisciplinar e intersetorial. O movimento conta com “embaixadas” em várias regiões do Brasil, e os são os embaixadores que realizam reuniões periódicas locais e presenciais. Atualmente são nove embaixadas no Brasil (Belo Horizonte/MG, Campinas/SP, Carapicuíba/SP, Curitiba/PR, Maringá/PR, Rio de Janeiro/RJ, Porto Alegre/RS, São Paulo/SP, Zona Norte de São Paulo/SP), e uma em Santiago no Chile. Com a pandemia do Covid-19 essas reuniões passaram a ser on-line - Café ComVida Digital - e ganharam maior impacto e conectividade. Atuam em conjunto como já mencionado no tópico de Mercado de trabalho, a Labora Tech e a Uni-Inversidade. Assim como o Semente de Oré, um programa para empreendedores sociais que atuam com longevidade nas periferias em parceria com o Lab60+.
Vários sites também agregam e divulgam conhecimento sobre e para os seniores, cada um com características próprias.
● PORTAL DO ENVELHECIMENTO E LONGEVIVER - desde 2004 foca na cultura da longevidade, agregando profissionais de diversas áreas e regiões do Brasil e de outros países. Na sua origem era ligado à Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. Em 2014, tornou-se uma empresa de negócio social, com a mesma missão, ano em que também nasceu a editora Portal Edições, ligada ao Portal do Envelhecimento. Que publica também a Revista Longeviver (https://www.portaldoenvelhecimento.com.br/).
● NOVA MATURIDADE - fundado em 2015 pela jornalista Kátia Brito, que desde 2019 se dedica exclusivamente ao projeto de produção e curadoria de conteúdo sobre envelhecimento ativo, longevidade e qualidade de vida (https://www.novamaturidade.com.br/).
● SOMOS 60+ - o movimento fundado em 2018 por três empreendedoras, procura ser fonte relevante e segura de conteúdos de saúde e bem-estar, bem como curadoria específica de serviços e produtos relacionados ao público longevo (https://www.somos60mais.com.br/). Na pandemia de Covid-19 tem oferecido oficinas gratuitas de inclusão digital para seniores em parceria com a startup Broder (https://broder.app/).
● PLENAE - em 2018 o empresário Abilio Diniz, aos 81 anos, lançou a plataforma Plenae focada em conteúdo para envelhecimento autônomo e saudável (https://plenae.com/).
● InFINITO - tocando em um tema sensível, o movimento InFINITO existe para promover conversas, experiências e conexões que desafiam certezas e expandem os limites das nossas crenças e tabus sobre a morte (https://infinito.etc.br/).
● SILVER OCEAN - fundada em 2019, é um empreendimento de impacto social que reconhece, qualifica, destaca e indica fabricantes de produtos ou fornecedores de serviços que asseguram a provisão de confiança, segurança e respeito aos 60+ (https://www.silverocean.com.br/).
O evento Longevidade Expo + Fórum (https://www.longevidade.com.br/), no formato de feira de negócios e fórum de tendências foi um marco para o setor. Na edição de 2019 aconteceu de forma presencial e teve grande destaque na mídia nacional. No formato on-line, em 2020, atraiu também uma audiência significativa. Nas duas edições várias startups e empresas ganharam visibilidade, e o fórum agregou e gerou discussões relevantes ao trazer diversas visões e abordagens sobre o tema. O Centro Internacional de Longevidade - Brasil (filiado ao International Longevity Centre Global Alliance - https://www.ilc-alliance.org/about/), fundado e presidido pelo médico geriatra Alexandre Kalache, realiza anualmente o Fórum Internacional da Longevidade, que ocorreu durante o evento Longevidade, nas edições 2019 e 2020. Uma iniciativa advinda do evento Longevidade foi o Contador da População 50+ e 60+ Brasil, que mostra dados atualizados de projeções do IBGE (https://www.longevidade.com.br/contador/).
A Nextt49+ - fundada em 2019, tem o propósito de atender ao mercado 49+, também aos profissionais que estão em transição de carreira ou já estão empreendendo. Tem um espaço de coworking em São Paulo (https://www.nextt49.com.br).
As healthtechs sempre estiveram direta ou indiretamente ligadas aos seniores. Em geral com foco em monitoramento remoto, apoio para cuidados à saúde, contratação de cuidadores e prevenção de queda. Seguem alguns exemplos:
● GERO360 - desenvolve soluções voltadas para a rotina de cuidados e para o bem-estar do idoso, institucionalizado ou não (https://gero360.com/).
● CORI - oferece um aplicativo que integra os registros sobre a saúde do paciente crônico, que são compartilhados entre os cuidadores e familiares, que podem acompanhar o dia a dia do paciente em qualquer lugar. Também são gerenciados os medicamentos e valores vitais, como pressão e temperatura (https://corisaude.com.br/).
● UPCUIDADOS - de São Paulo, é uma das várias plataformas que conecta cuidadores a idosos e seus familiares (https://upcuidados.com.br/).
● ACVIDA Cuidadores - outra plataforma de cuidadores, desenvolveu um curso de formação de cuidadores com baixo custo que pode ser realizado à distância, com possibilidade de estágio presencial e certificação para atuação profissional (https://acvida.com.br/).
● TECHBALANCE - desenvolveu tecnologia própria de prevenção de quedas e para compor histórico clínico, gestão de linhas de cuidado com foco em medidas de desempenho motor (https://new.techbalance.com.br).
● FISIOCLOUD - agrega serviços e produtos que alinham a Internet das Coisas (Internet of Things - IoT) ao tratamento de reabilitação de pacientes 60+ (http://fisiocloud.com.br/).
● TELEHELP - Um case de destaque no Brasil, fundado em 2006. Foi pioneira e hoje é a maior empresa de monitoramento emergencial do Brasil, sempre com foco no público sênior. Fornece serviço baseado em aparelhos instalados na residência, que permitem que seja solicitada ajuda em casos de quedas ou emergências. Sendo também a primeira a usar em larga escala os equipamentos junto ao corpo - pulseiras ou colares - sistemas “vestíveis”, que aqui iremos denominar pelo termo mais usados atualmente: wearables (https://telehelp.com.br/).
As operadoras de Planos de Saúde são um parceiro natural de inovação, para as healthtechs e agetechs, dentre os grandes players corporativos na área de longevidade no Brasil, vale destacar:
● PREVENT SENIOR - de São Paulo, que desde 1997 atua totalmente dedicada ao idoso, sendo um dos maiores planos de saúde do país. O primeiro óbito por Covid-19 no Brasil foi registrado no hospital da rede Santa Maggiore, da Prevent Senior, em São Paulo. Após enfrentar uma crise relacionada a notícias desfavoráveis no início da pandemia, a empresa se recuperou e teve significativo crescimento em 2020 (https://www.preventsenior.com.br/).
● MEDSENIOR - fundada no Espírito Santo, ampliou sua cobertura para várias outras capitais recentemente (https://www.medsenior.com.br/).
● +60SAÚDE - fundada em 2013 em Minas Gerais, oferece um modelo de gestão da saúde da pessoa idosa de forma integral. Trabalha em parceria com operadoras de saúde, e empresas (https://www.mais60saude.com.br/).
O Distrito Health Tech Report de 2020, relatório amplo mais recente sobre o ecossistema de healthtechs, não menciona entre suas categorias as agetechs. Algumas empresas do levantamento, entretanto, mencionam explicitamente o público sênior como alvo. O documento lista 542 startups, com 430 milhões investidos em healthtechs, de 2014 até o período de 2020 mapeado no relatório, em 189 rodadas de Venture Capital realizadas no setor de saúde. O ano com o maior volume de capital foi 2017, devido aos significativos aportes recebidos pelo Dr. Consulta (https://www.drconsulta.com/). A relevância da inovação nas instituições de saúde é um consenso atualmente. Mas a maturidade do setor é baixa ainda. Apesar de ser o terceiro maior setor em número de startups no país, as healthtechs, ocupam apenas o oitavo lugar em volume total de aportes. Metade das healthtechs brasileiras têm menos de 5 anos de operação. Soluções voltadas para outras empresas (B2B) predominam no setor. A expectativa é de aumento dos aportes de investidores, acelerada pela transformação digital deflagrada pela pandemia do Coronavírus. O Relatório do Distrito evidencia a heterogeneidade na criação de Healthtechs no Brasil. Temos 64 % das healthtechs localizadas no Sudeste. A divisão geográfica das startups de saúde é similar à de outros estudos setoriais de startups realizados pelo Distrito. O estado de São Paulo é o principal polo com 43,1% das healthtechs brasileiras, seguido por Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Rio de Janeiro. Startups que melhoram a gestão em clínicas, hospitais e laboratórios estão na liderança, com 25% das healthtechs. Na sequência, destacam-se as categorias de Acesso à Informação, Marketplace e Farmacêutica e Diagnóstico, todas com uma representatividade maior que de 10% do total.
Várias startups no Brasil se enquadram nesse conceito das Terapias Digitais. Foram criadas para apoiar e melhorar a jornada de tratamento de alguma doença em um paciente, que pode ser pessoa idosa.
● WECANCER - plataforma de apoio a pacientes em tratamento de câncer fora do centro de tratamento (https://wecancer.com.br/).
● CUCO HEALTH - plataforma que auxilia pacientes a seguirem seu plano de cuidado quando estão sozinhos melhorando a adesão ao tratamento, monitorando aspectos da patologia e possibilitando que os profissionais de saúde acompanhem a evolução (https://cucohealth.com/).
● BRIGHT MED - a área de dispositivos de tratamento a Bright desenvolveu um tratamento baseado em fotobiomodulação, processo não invasivo e não térmico para tratamento de dores crônicas e debilitantes, como osteoartrose, dores lombares e dores reumáticas, que acometem o público sênior em maior proporção (https://www.brightmed.com.br/).
● N2B - criou um programa nutricional de acompanhamento contínuo (https://www.n2bbrasil.com/).
● DRPOCKET - de Santa Catarina, utiliza telemedicina e integra serviços da área da saúde íntima masculina (https://www.drpocket.com.br/).
No Brasil ainda estamos bem no início no processo de inclusão dessas novas terapias de maneira integrada no sistema de saúde, porém é um processo irreversível. A tecnologia do setor de saúde, particularmente para o público sênior, precisa focar em alguns pontos principais, como a melhora da jornada do paciente e a garantia da eficiência operacional. Além de experiência de usuário focada nas particularidades desse público, e modos de interação com familiares e cuidadores (se for o caso). No cenário nacional é urgente a parceria com o SUS, para que as tecnologias possam ajudar a otimizar o tratamento de saúde e uso de recursos públicos em prol da população em geral. Dados do Ministério da Saúde apontam que cerca de 75% da população de idosos depende apenas do SUS. O atendimento desta parcela da população tem um custo elevado ao sistema, devido ao cuidado, tempo mais elevado de internação, maior quantidade de consultas entre outros pontos. Conforme estudo do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) que realizou uma projeção dos gastos ambulatoriais e hospitalares entre 2010 e 2030, o gasto ambulatorial relativo a idosos em 2010 era de 31,2% e em 2030 deverá atingir 42,8%. Em relação ao gasto hospitalar o valor sairá de 28,5% para 41,9%. Diante disso, nos últimos anos vem atuando em frentes como: saúde do idoso e linhas de cuidados, assim como o lançamento recente da caderneta do idoso.
Em relação aos planos de saúde, os altos custos, acabam influenciando no custo do plano para a faixa de 59 anos ou mais. Cabe ressaltar que atingido essa idade o plano, geralmente, é corrigido em aproximadamente 50%. Assim o acima, o plano de saúde para pessoas acima de 59 anos em muitos casos acaba ficando financeiramente inviável, em razão do seu alto custo, o que faz com que beneficiários migrem para o SUS, elevando assim o gasto e número de atendimentos em um sistema que já está em colapso.
As healthtechs têm sido protagonistas na pandemia do Covid-19. A telemedicina foi reconhecida no País, em caráter excepcional, enquanto durar a situação de emergência, por meio da Lei nº 13.989/2020, sancionada em 16 de abril e em vigor desde a mesma data. Dentre alguns exemplos abaixo:
● ROBÔ LAURA - plataforma de Curitiba, que trabalha com inteligência artificial na gestão do cuidado para hospitais e clínicas. Robô Laura oferece PA (Pronto Atendimento) digital, uma das ferramentas que possibilitam que pessoas tirarem dúvidas sobre os sintomas antes de irem aos hospitais (http://www.laura-br.com/).
● HILAB - a healthtech curitibana, que oferece dispositivos de testes laboratoriais remotos, foi uma das primeiras empresas a desenvolver testes laboratoriais rápidos para diagnóstico da Covid-19 no Brasil (https://hilab.com.br/).
Com os grandes desafios de saúde mental e física gerados pela necessidade de isolamento social da população sênior, plataformas de auxílio psicológico e emocional como a Vittude (https://www.vittude.com.br/), que oferece consultas on-line com psicólogos, tiveram significativo crescimento. Assim como diversos aplicativos que oferecem apoio para exercícios físicos e mesmo meditação em casa.
Agetechs com foco em atividades que envolviam atendimento presencial sofreram impactos significativos em suas operações e faturamento, com interrupção parcial ou total de atividades em vários casos, e necessidade de pivotagem que pode ou não permanecer no cenário pós pandemia.
● BRODER - startup de Curitiba, começou suas atividades em 2018. No advento da pandemia de Covid-19, interrompeu totalmente seus serviços que envolviam apoio presencial para atividades externas. Criou então uma atividade de apoio emocional gratuito - o Causos e Poesias - que oferece escuta empática e declamação de poesias, em parceria com o movimento social Escuta Viva (https://www.escutaviva.com.br/), bem como várias atividades de apoio geral em tecnologia por videochamada e finalmente cursos com material de apoio e horas de mentoria a distância. Essas atividades irão ser incorporadas às atividades originais da empresa, no pós pandemia (https://broder.app/).
● MAIS VÍVIDA - startup de São Paulo, uma plataforma que conecta jovens em busca de trabalho com propósito e pessoas mais velhas que necessitam de companhia em atividades diversas, estímulo cognitivo e inclusão digital, também interrompeu seu atendimento presencial na pandemia, criaram uma campanha para recrutar voluntários que pudessem ajudar o seniores em serviços que não envolvessem contato físico com os mesmos (https://maisvivida.com.br).
● EU VÔ - aplicativo de mobilidade adequado às necessidades de idosos e pessoas com mobilidade reduzida. Os motoristas parceiros do serviço, que começou em 2017 na cidade de São Carlos (SP), recebem treinamento com profissionais da área da saúde para prestar um serviço diferenciado. O isolamento social diminuiu sensivelmente os deslocamentos de idosos durante a pandemia (https://www.euvo.com.br/).
● DIVAS DANCE - empresa de Brasília, criou um programa para mulheres 60+ praticarem exercícios físicos misturados a passos de dança de ritmos variados. Promove saúde, inclusão e empoderamento com a formação de uma comunidade com atividades de socialização. Fez uma adaptação de suas atividades na pandemia, com lives e outras atividades on-line (http://divasdance.com.br/).
Um tema pouco abordado em geral é o chamado Mercado da Finitude. Que pode se posicionar como parte do segmento de agetechs. Na área da saúde, os cuidados paliativos abordam a questão do fim da vida de forma integrada. Empresas de seguros de vida tradicionais e as insuretechs têm um mercado bilionário no Brasil. Empresas do segmento “death care”, que reúne serviços de funerárias, cemitérios, crematórios e planos funeral, tiveram destaque, desafios e oportunidades na pandemia do Covid-19. Esse setor tem potencial de crescimento com novas tecnologias, uma visão integrada da longevidade e finitude e com novos olhares da sociedade sobre o processo da morte, como parte da vida. Várias startups em países desenvolvidos trabalham no segmento da finitude. Durante a pandemia, ao longo de 2020, houve um significativo aumento no número de testamentos registrados em Cartórios de Notas em todo o Brasil, relacionado ao crescimento dos temores com a sucessão após a propagação no país da pandemia do novo coronavírus, em especial entre pessoas idosas. O aumento na busca por orientações atingiu também profissionais de saúde e até mesmo pessoas mais jovens que fazem parte dos grupos de risco para a Covid-19, e revela preocupação em garantir que os bens sejam corretamente encaminhados e as vontades sejam cumpridas em caso de morte, evitando disputas entre familiares no futuro Existem várias outras providências que nem todos conhecem ou providenciam, além de seguros, planos funerários e testamentos, como lista de beneficiários, procuração para cuidados de saúde, testamento vital, mandato, fundo fiduciário, diretivas antecipadas. Nos países desenvolvidos esse setor está bem mais maduro e algumas startups do mercado da finitude tiveram expressivo crescimento. No Brasil a agetech Janno, fundada em 2019, teve destaque na mídia no Brasil. Tem o objetivo de apoiar os brasileiros com mais de 50 anos no planejamento de final de vida, garantindo a dignidade e independência até os últimos dias.
1 .8. Perspectivas Para um Futuro Longevo
A pandemia de Covid-19, ao lado da tragédia da perda de vidas, traumas e crise socioeconômica que impactam o mundo todo, acabou por acelerar processos e tendências que em tempos ditos “normais” demoram anos para se desenrolar. No Brasil talvez o exemplo mais emblemático relacionado à saúde, como mencionamos, seja a permissão em 2020 e quase imediata implementação de sistemas de telemedicina, após anos de debates acalorados sobre o tema. Mas, ao longo da história humana, medidas emergenciais durante crises têm o hábito de se perpetuar, finda a emergência, como afirma o historiador Yuval Noah Harari no seu livro Notas sobre a Pandemia (2020). Ainda é incerto o quanto a pandemia pode impactar a economia mundial, em particular o Brasil, nos curto e médio prazos. Mesmo porque o seu desenrolar ainda é incerto. Mas a rápida transição demográfica no Brasil para uma sociedade mais longeva é um fato inexorável e com grandes e profundas mudanças, cada vez mais evidentes para todos.
Uma das grandes linhas de pesquisa e interesse de empresas atualmente é justamente em modos de retardar o processo de envelhecimento, com um aparato de técnicas e moléculas antienvelhecimento. O mesmo historiador Yuval Noah Harari, explora em seus livros Sapiens (2018), as prováveis consequências distópicas de uma sociedade com uma elite excepcionalmente longeva.
Cremos ser essencial caminharmos cada vez mais para uma economia que nutra apreço pela sociedade da longevidade. Na qual o cidadão seja o ponto central de atenção e participação nas soluções. O foco apenas no mercado consumidor pode perpetuar situações de preconceito e exclusão socioeconômica de pessoas, idosas ou não. Afinal, uma humanidade mais longeva exige soluções integradas para viabilizar que as pessoas tenham conhecimento e acesso ao que precisam para melhorar sua qualidade de vida. É também fundamental reconhecer o trabalho, remunerado ou não, de quem cuida, seja ele um cuidador profissional ou familiar de pessoa idosa, em seu próprio domicílio ou até mesmo institucionalizadas. Bem como, aprimorar e descobrir novas formas de apoiar essas pessoas. Uma sociedade longeva deve se preocupar em viver sempre nas melhores condições possíveis e com dignidade.
Cada grupo de fundador(es) de inovações, sejam como tecnologia social, empresas convencionais, startups, Terceiro Setor, empreendedorismo de impacto e outras têm uma visão única de como abordar questões ligadas aos longevos. Bem como, a forma que podem se adaptar ou contribuir para minimizar o impacto da pandemia de Covid-19 e, como sua solução se encaixa no “novo normal”. Os profissionais à frente de soluções na experiência do usuário, criação e solução de produtos de tecnologia, sejam eles físicos ou digitais, têm hoje a necessidade e o dever de incluir a pessoa idosa. Também nas edificações e nos espaços públicos nas cidades, usando cada vez mais o design inclusivo e universal.
A sociedade como um todo terá de lidar com dilemas éticos apresentados por novas tecnologias em nuvem, com inteligência artificial, internet das coisas e redes de comunicação cada vez mais rápidas. Em paralelo com grandes saltos nas possibilidades de manipulação e terapias genéticas, medicina personalizada e tratamento e regeneração de órgãos. No lado positivo da tecnologia em saúde, a computação em nuvem democratiza os dados e dá aos pacientes o controle sobre sua própria saúde, agindo como uma ferramenta para a educação e o envolvimento do paciente. Isso é particularmente importante para seniores, que têm maior prevalência de doenças crônicas, que podem gerar uma grande quantidade de informações, como dos históricos de ascendência e família em sistemas baseados em inteligência artificial para criar um perfil estatisticamente fundamentado e diagnosticar problemas mais rapidamente. Dados ricos podem ser obtidos de fontes sobre o ambiente circundante, permitindo que os médicos identifiquem e resolvam problemas endêmicos de regiões, famílias, negócios e outros grupos populacionais. Entre as maiores dificuldades, segue a dificuldade de adaptação dos órgãos regulatórios às novas tecnologias. Porém, do lado negativo, existe a possibilidade de uso indevido dessas mesmas ferramentas. Não se sabe quando ao certo tais tecnologias estarão amplamente disponíveis ou o rumo das discussões éticas, regulamentações e impacto na economia e na vida cotidiana da maioria das pessoas. Mas cabe lembrar que estamos vivendo talvez o maior ritmo de mudanças tecnológicas e de costumes da história humana. No entanto, a tecnologia levou poder do compartilhar talvez a seu momento áureo.
Um grande desafio é o de fomentar uma maior cooperação entre atores da economia da longevidade. São cada vez mais evidentes os benefícios das trocas – sejam elas com startups, universidades, outras empresas e fornecedores. Além disso, é importante pensar em inovar priorizando as necessidades humanas. A população de alto poder aquisitivo em qualquer contexto presente ou futuro terá mais oportunidades de acesso a produtos e serviços de ponta. O importante é saber como podemos estender essas iniciativas ao maior número possível de pessoas, integrando políticas públicas, empresas, empreendedores sociais e Organizações do Terceiro Setor para promover dignidade em todas as fases de vida. A longevidade não pode ser restrita apenas à idosos, pois escolhas financeiras, pessoais, profissionais e de hábitos de saúde se refletem de maneira inequívoca nessa fase da vida.
O Brasil é um país de dimensões continentais e contexto histórico onde a diversidade cultural e de contextos socioeconômicos é a marca registrada. O Sudeste, marcadamente o pólo São Paulo - Rio de Janeiro, concentrou muitas das iniciativas recentes em economia da longevidade. No entanto, temos muitas outras iniciativas em outras regiões do país, surgindo em ritmo acelerado e em diversos contextos.
Temos de imediato duas necessidades complementares. Por um lado, a catalogação das iniciativas, principalmente de startups, em bases de dados e iniciativas que se conversem e interajam a fim de promover o ecossistema. Por outro lado, o estabelecimento de fortes hubs regionais fora do Sudeste, que acolham iniciativas presencialmente e ajudem sua conexão com o ecossistema de startups, com a cultura da longevidade, em um contexto intergeracional. Os hubs devem promover sinergia, informação e não segmentação exagerada de iniciativas. Também é essencial interagir com movimentos que acolham iniciativas do Terceiro Setor, de empreendedorismo social ou de impacto. Desse modo se estabelece um ambiente de ideias e negócios que possam contribuir para melhorar a vida de cidadãos que tiveram o privilégio de envelhecer. Com protagonismo sênior! O médico Alexandre Kalache lista vários pilares para o bem envelhecer. Mas além dos pilares, ele afirma a importância de termos um propósito de vida. Kalache sugere sempre se perguntar "Por que você acordou de manhã?", para demarcar essa motivação.
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