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Do deserto ao valor da chuva


Por Edilmere Sprada e Márcia Umata

06/04/2023

Coluna Longevidade - Gazeta do Povo


Como diz Yla Fernandes: “Às vezes é preciso passar pelo deserto para entender o valor da chuva”. A frase reflete situações na vida que, quando observadas de longe, não nos afeta, mas quando a situação é perto ou, melhor, dentro de casa – tudo muda.


E se uma situação destas acontecer: “senti uma dor no lado esquerdo, sensação de cansaço imenso, precisei sentar-me para continuar falando, logo tudo escureceu, e meu inconsciente me informava: você está em sala de aula, não desmaie. Quando voltei a consciência, não reconhecia aquele lugar frio, sem cores, sem barulho. Logo imaginei ‘onde devo estar?’ Puxei o ar e não conseguia respirar direito, muita dor no peito. O que aconteceu?”.


Nestas horas a família recebe a informação que algo grave aconteceu e os relatos sempre os mesmos: ele estava bem, não reclamava de nada, hoje com seus 75 anos morava sozinho, tinha suas manias e sua vida organizada. E agora? Pai de quatro filhos, três homens e uma mulher. Todos casados e com seus núcleos familiares constituídos, vida resolvida e encaminhada, como sempre o pai dizia. De repente, os filhos passam os dias se revezando para CUIDAR do pai que não pode mais ficar sozinho, precisa de atenção, cama hospitalar, alimentação. E como tudo isso pode ser resolvido? Quem poderá orientar a família?


O pai continua consciente, ouve tudo, tem opiniões firmes, mas ninguém tem paciência de ouvi-lo. Ele agora é quem necessita de cuidados, não mais os filhos. Pensamentos voam em sua mente – o que será feito de suas coisas, como será organizada a sua casa, se nem responder as perguntas dos médicos é possível? Será que a família sabe quais são as Diretivas Antecipadas da Vontade (DAV), chamado também de Testamento Vital, ou seja, já conversaram sobre isso algum dia? Qual seria o desejo dele agora?


Perguntas que nos fazem pensar, e quando estaremos preparados para respondê-las?


Receber determinadas notícias às vezes é como estar no deserto, solitário, sem respostas. Mas não seria melhor ter as informações antes de tudo isso acontecer? Deixar tudo organizado, escritas as suas vontades, conversar com os filhos como deseja ser cuidado. São tantas as probabilidades de dependermos do CUIDAR no processo da longevidade, mas deixamos sempre para quando o momento se escancara na frente.


Será que a família sabe o que são Cuidados Paliativos? Entender que quando a doença está acometendo o corpo a alma adoece e necessita de muito afeto, carinho, atenção e amor? Necessitamos disso sempre, mas deixamos para colocar em prática quando? CUIDAR tem várias frentes, tem o passado onde fomos cuidados e esquecemos, tem o autocuidado que deveria ser diário, e chega o dia de compreender o valor do CUIDAR do outro, momento em que, observamos o quanto não estamos preparados. Você está?


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